Universidades abraçam a causa da longevidade
Rede já conta com 21 instituições comprometidas a incentivar o aprendizado contínuo e o convívio entre gerações Uma rede global de universidades amigas do idoso: o que parecia uma utopia transformou-se em realidade graças ao trabalho iniciado em 2012 pela Dublin City University (DCU), na Irlanda. Atualmente, esse grupo conta com 21 instituições espalhadas pela Europa, América do Norte, Coreia do Sul e Austrália. Nos dias 13 e 14 de março, a capital irlandesa sediará o primeiro encontro dessa rede, conhecida como AFU (Age Friendly University). O médico brasileiro Alexandre Kalache, que foi diretor da Organização Mundial da Saúde para o Envelhecimento e criador do projeto Cidades Amigas dos Idosos, será o palestrante da abertura do evento. Conversei com Christine O'Kelly, coordenadora do projeto, que tem o suporte de um grupo multidisciplinar para a criação de cursos de interesse para os mais velhos que vão de religião a direito, de negócios a desenvolvimento humano. “Identificamos diversas razões para criar uma Universidade Amiga do Idoso”, ela afirma. “A primeira foi o indicador demográfico. Embora apenas 11% da nossa população tenham mais de 65 anos, a estimativa é de que esse contingente vá dobrar nos próximos 20 anos, e queremos estar preparados. Também pretendemos contribuir para maximizar as oportunidades e minimizar os desafios do envelhecimento. Por exemplo, investindo em tecnologia voltada para que as pessoas permaneçam independentes o maior tempo possível. Pesquisa que realizamos em 2008 mostrou que engajar idosos como experts para a criação de produtos para esse público trouxe inúmeros benefícios – inclusive o de fortalecer o relacionamento entre gerações no campus universitário”. Curso da Dublin City University: cerca de dois mil idosos frequentam as atividades da universidade Divulgação O começo foi modesto, com apenas 80 pessoas, mas atualmente a DCU tem 2 mil idosos por ano fazendo algum tipo de atividade na universidade. Os cursos mais populares são os relacionados com psicologia, literatura e História. Christine conta que são feitas pesquisas periódicas para atender aos interesses dos alunos. “Oferecemos mais de 50 módulos de estudos. Muitos irlandeses não tiveram experiências positivas no colégio e é muito importante que sejam encorajados a dar o primeiro passo. É comum recebermos ligações de pessoas que tiveram que abandonar a escola aos 12 ou 14 anos e que, por este motivo, se consideram incapazes de aprender. Elas não se dão conta da contribuição que têm a dar para a sociedade”. Embora ainda não tenham criado um método para medir o impacto positivo da iniciativa, pesquisas qualitativas com os participantes mostraram que eles se sentem mais ativos, mental e fisicamente, e que houve benefícios como a redução do isolamento e a criação de novas amizades. Outras dez universidades já manifestaram interesse em aderir à rede, por isso a importância do encontro que será realizado mês que vem: “será a primeira vez que todos os integrantes da rede se reunirão e teremos a oportunidade de traçar metas para o futuro. Um dos projetos que estão sendo articulados em conjunto é sobre saúde digital, com orçamento de 2 milhões de euros (cerca de R$ 8 milhões)”, diz a coordenadora. Universidades amigas do idoso: incentivar relações intergeracionais é uma das propostas da rede Divulgação Para o caso de alguma instituição brasileira se interessar, são dez os princípios que regem a rede de universidades amigas do idoso: 1) Estimular a participação dos adultos mais velhos em todas as atividades relevantes da universidade, inclusive os programas de pesquisa. 2) Promover o desenvolvimento pessoal e profissional na segunda metade da vida das pessoas, inclusive dando apoio aos que querem tentar uma nova carreira. 3) Reconhecer o amplo espectro de necessidades educacionais dos mais velhos, para atender desde os que deixaram a escola precocemente até os que buscam um título de PhD. 4) Promover o aprendizado intergeracional, facilitando o compartilhamento de expertises entre estudantes de todas as idades. 5) Ampliar o acesso à educação on-line para adultos de modo a garantir a diversidade de possibilidades de participação. 6) Garantir que a agenda de pesquisa da universidade leve em consideração as necessidades relacionadas ao envelhecimento. 7) Ampliar o conhecimento dos alunos sobre os dividendos da longevidade e a riqueza que esta pode trazer para a sociedade. 8) Melhorar o acesso dos idosos aos programas da universidade relacionados a saúde e bem-estar, assim como a artes e atividades culturais. 9) Fazer com que a universidade se engaje e participe de sua própria comunidade de aposentados. 10) Garantir diálogo constante com organizações que representem os direitos da população mais velha.
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