Até quando é possível adiar o sonho de ser mãe?


Conselho Federal de Medicina estabeleceu limite de 50 anos para a reprodução assistida Conselho estende prazo recomendado para gravidez, explica especialista No dia 10 de abril, em Belo Horizonte, um nascimento ganhou espaço no noticiário porque a mãe do bebê tinha 64 anos. O Brasil é um dos países com melhor resultado em reprodução assistida: segundo relatório da Anvisa, a taxa de sucesso é de 73% na fertilização de óvulos e formação de embriões – mas é importante saber que a taxa de gravidez beira 50% depois que é feita a transferência do embrião. Será que, graças aos avanços em técnicas de tratamento da fertilidade, o sonho da maternidade ganhará uma nova janela de tempo, estendendo-se por uma década ou mais? Não é bem assim. Resolução do Conselho Federal de Medicina, de setembro de 2017, estabeleceu o limite de 50 anos de idade para as mulheres se submeterem a uma transferência de embrião. As exceções devem ser muito bem avaliadas, por causa dos problemas que poderão surgir. Conversei com o doutor Márcio Coslovsky, especialista em reprodução humana há mais de 20 anos e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). Para ele, embora o desejo da maternidade seja compreensível, as questões não se restringem ao aspecto físico e envolvem a capacidade de cuidar da criança por um longo período de tempo: “a resolução do Conselho levou em conta que a longevidade é um fato e que as mulheres vivem mais que os homens, podendo chegar mais facilmente aos 80 ou 90 anos. Nesse caso, ter um filho aos 50 significaria que, em tese, ela pode acompanhá-lo até a vida adulta, mas não se pode esquecer que a gravidez representa uma sobrecarga. Além de obrigatoriamente essa mulher ter que gozar de boa saúde, ainda assim o pré-natal será de risco para hipertensão e diabetes gestacional”. Márcio Coslovsky, especialista em reprodução humana há mais de 20 anos e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida Mariza Tavares Em sua clínica de reprodução assistida, 43% das mulheres que buscam ajuda têm mais de 40 anos; 40% têm entre 35 e 39 anos; 15% estão na faixa entre 30 e 34; e apenas 2% têm menos de 30 anos. “Depois dos 40, mesmo que a mulher esteja em excelente forma física, o ovário não é mais o mesmo”, explicou, “porque há uma reserva menor de ovos, e de pior qualidade. Por isso o ideal é buscar ajuda antes dos 35, e esse é o conselho que dou para quem se casou mais tarde, quer viajar, fazer uma reserva financeira, ou comprar apartamento antes de pensar em filhos”. Adiar o sonho de ser mãe tem sido exatamente a opção para quem quer investir na carreira, porque o mundo corporativo ainda é muito pouco amigável em relação à maternidade. O United States Census Bureau, o equivalente americano do IBGE, fez um estudo sobre o impacto da maternidade na desigualdade de gênero. Logo após o primeiro filho, a disparidade de renda no casal dobra: há boas chances de a mulher deixar o emprego, ou diminuir as horas de trabalho para ficar com a criança. No entanto, as que têm seu primeiro filho antes dos 25 ou depois dos 35 anos conseguem diminuir a distância salarial em relação a seus maridos. É fácil entender: antes dos 25, a carreira ainda está começando e é possível recuperar o tempo perdido; depois dos 35, está mais consolidada. De acordo com o doutor Marcio Coslovsky, se a tendência se tornar a norma, há uma grande probabilidade de aumentar o número de mulheres que vão congelar seus óvulos: “para quem tiver esses planos, a fase ideal é congelar os óvulos entre os 25 e 28 anos, quando estão em sua maior capacidade”, ressalta. A polêmica não se restringe a mães idosas. Esse blog já tratou da questão da paternidade tardia, que tem como exemplo mais célebre o roqueiro setentão Mick Jagger, cujo filho caçula ainda não completou dois anos. Entretanto, estudo feito por médicos americanos, que acompanharam mais de 7.500 casais e 19 mil ciclos de fertilização in vitro, mostrou que quanto mais velho era o parceiro, menores eram as chances de o procedimento ter êxito. Outra pesquisa, realizada na Suécia em 2014, apontava outro tipo de risco: pais acima dos 45 anos tinham mais chances de ter filhos com problemas psiquiátricos, como autismo e esquizofrenia.

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