Brasil teve 119 mil menos nascimentos entre 2015 e 2016, período de maior circulação do zika
Adiamento da gravidez e abortos podem explicar queda, analisa levantamento publicado no 'PNAS'. Maior diminuição ocorreu a partir de abril de 2016. Vírus da zika foi identificado como associado às más-formações no final de 2015. Divulgação da relação pode ter tido impacto nos nascimentos AP Photo/Felipe Dana A chegada do vírus da zika entre 2015 e 2016 pode ter puxado o número de nascimentos para baixo no Brasil: nesse período, o país teve 119.095 nascimentos a menos que o esperado, diz estudo publicado no "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS). Pesquisadores analisaram banco de dados brasileiros a partir de setembro de 2015 -- segundo a análise, a queda começou a ficar mais acentuada a partir de abril de 2016 (com uma diminuição de 0,05). A pesquisa teve como primeiro autora Marcia Castro, da Universidade de Harvard, com a participação de Lucas Carvalho (Universidade Federal de Minas Gerais), Cesar Victora (Universidade Federal de Pelotas), Giovanny França (Ministério da Saúde no Brasil) e Qiuyi Han (Harvard). Apesar do estudo não ter estudado especificamente a influência do zika, pesquisadores acreditam que a epidemia por zika e sua divulgação influenciaram a queda nos nascimentos -- principalmente no que tange às más-formações de fetos e crianças. Uma maior divulgação da epidemia pode terr contribuído tanto para um adiamento na gravidez, quanto na maior probabilidade no número de abortos, argumentam os cientistas. "Argumentamos que o adiamento da gravidez e um aumento nos abortos podem ter contribuído para o declínio dos nascimentos", concluem os autores no estudo. "Também é provável que tenha ocorrido um aumento nos abortos seguros, ainda que seletivos por status socioeconômico", disseram. O achado da pesquisa é corroborado por outras: um levantamento brasileiro entre 30 de março e 3 de junho de 2013 mostrou 18% mais mulheres passaram a utilizar contraceptivos. No entanto, a crise econômica, um outro fator que conhecidamente afeta a decisão de ter filhos, pode ser elencada também como uma das razões para a queda dos nascimentos, diz o estudo. Aborto e desigualdades regionais no número de casos Para estimar a quantidade de abortos no período, pesquisadores contabilizaram o número de hospitalizações que podem ter ocorrido por tentativas de interrupção da gravidez. Com a análise, a pesquisa concluiiu que a hospitalização por aborto foi menor que a esperada -- o que implica numa maior ocorrência de abortos seguros, posto que essas mulheres não precisariam procurar o hospital. Para os autores, o dado mostra a possibilidade de um maior número de abortos em regiões de maior renda, fator que pode ter influenciado para uma desigualdade regional da microcefalia -- com um maior número sendo registrado na região Nordeste, por exemplo. "A epidemia do zika resultou em uma geração de bebês com síndrome do zika congênita (CZS) que refletem e exacerbam as desigualdades regionais e sociais", escreveram os autores.
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