As origens surpreendentes do controle remoto
O controle remoto tal qual o conhecemos surgiu a partir da vontade de um homem de desativar o som de sua TV e mudar de canal, tudo por causa de comerciais publicitários. Controle remoto surgiu a partir da vontade de um homem de desativar o som de sua TV e mudar de canal durante os intervalos comerciais Pixabay Tudo começou com um sentimento compartilhado por muitos telespectadores até hoje: a raiva dos anúncios. Nos anos 50, Eugene F. McDonald, presidente da Zenith Electronics, empresa de eletroeletrônicos sediada nos Estados Unidos, deu a seus engenheiros um desafio: queria um dispositivo que lhe permitisse desativar o som da TV ou mudar de canal, já que detestava assistir a intervalos comerciais. Foi assim que nasceu o controle remoto. A vontade de McDonald mudou a maneira como assistimos à TV, desencadeando uma revolução: deixamos de ser passivos para nos tornarmos espectadores implacáveis. Com um simples toque, podíamos ignorar o que não queríamos ver. Batizado de Flashmatic, o dispositivo da Zenith foi projetado por um engenheiro chamado Eugene Polley e lançado em 1955. "Ele não era engenheiro elétrico, mas engenheiro mecânico", diz John Taylor, historiador da Zenith e diretor de comunicações da atual empresa matriz LG, sobre Polley. "Ou seja, o dispositivo era basicamente mecânico". Antes do Flashmatic, já havia aparelhos capazes de efetuar a troca de canal, mas eles precisavam estar conectados por fio à televisão. O mais famoso deles também foi fabricado pela Zenith. O Lazy-Bones permitia que o usuário ligasse ou desligasse a TV, além de mudar de canal - mas não silenciava comerciais irritantes. O mesmo não acontecia com o Flashmatic. O invento usava "uma fonte de luz direcional com um sensor em cada canto da tela da TV", diz Taylor. "Isso permitia que o espectador desativasse o som, trocasse de canal, tudo a partir de um botão." Alinhado com a estética da época, o Flashmatic parecia uma arma que Flash Gordon poderia usar contra alguma ameaça sobrenatural. "Vivíamos a época do Sputnik e do Buck Rogers", diz Taylor. "Parecia uma pequena arma de raio verde." No entanto, havia um grande problema com o invento da Zenith. Os quatro sensores localizados nos cantos do televisor não eram sensíveis apenas à luz acionada pelo telespectador. O sol poderia ligar ou trocar o canal de sua TV, dependendo de onde ela estivesse localizada. O preço também era salgado. "A Flashmatic aumentou em US$100 o preço de um aparelho de televisão", diz Taylor, "e isso numa época em que você poderia comprar um carro por US$ 600". O departamento de inovação da Zenith recebeu, então, uma nova missão - e foi a vez de um de seus engenheiros elétricos, Robert Adler, chamar para si a tarefa de criar outro dispositivo. Experimentos com ondas Uma de suas ideias era usar ondas de rádio, mas isso foi descartado logo no início, diz Taylor. "Se você morasse em um prédio de apartamentos, poderia acabar mudando o canal da TV do seu vizinho ao tentar mudar o da sua", explica. Adler optou, então, pelo uso do som. O novo invento da Zenith, batizado de Comando Espacial, era um aparelho ultrassônico com um mecanismo de pequenos martelos que atingiam hastes de alumínio no interior do controle. Estes vibravam em certas frequências - forçando a televisão a ligar ou desligar, mudando o canal ou silenciando o som. O jornalista Steven Beschloss diz que controles remotos como o Comando Espacial eram "simples e elegantes". "O segredo deles, eu acho, era sua clareza de propósito. Tinham apenas algumas funções. Seu manuseio era fácil e simples", acrescenta. O Comando Espacial parecia um objeto da Jornada nas Estrelas, com apenas quatro botões salientes - bem diferentes dos aparelhos de hoje em dia. Os botões tocavam as hastes com um som quase sussurrante, inaugurando a era dos controles remotos de ultrassom - uma técnica usada até os anos 80. As frequências usadas nos controles remotos, como o Comando Espacial, eram muito altas para o ouvido humano captar, embora pudessem ser distinguidas por animais como cães e gatos. (Lembro-me do meu irmão mais velho perseguindo os gatos dos meus avós pela casa com esse dispositivo.) Até meados da década de 70, os controles remotos de TV não tinham mais do que um punhado de botões. Na verdade, foi a BBC que criou em parte a necessidade de um dispositivo mais complicado. Em 1974, lançou o Ceefax - o primeiro serviço de informação de teletexto do mundo. No entanto, era impossível para a maioria dos telespectadores acessar as páginas de notícias, esportes e informações financeiras usando um controle remoto normal. Assim, o novo aparelho precisaria ter espaço para um teclado numérico (para digitar os números de páginas diferentes) e para alternar entre o serviço de texto e a TV normal. O controle remoto, tal qual o conhecemos, estava começando a tomar forma. A crescente necessidade de mais e mais funções também levou os designers a procurar uma maneira diferente de se comunicar com o aparelho de TV. E a forma encontrada foi por meio da luz infravermelha. De repente, o controle remoto ficou silencioso. Mas foi nos anos 80 e 90, com a ascensão da TV a cabo e a explosão de dispositivos auxiliares, como videocassetes, aparelhos de DVD e consoles de videogames, que o controle remoto se tornou bastante "inchado". Em um artigo para a revista americana Slate em 2015 , o jornalista americano Daniel Engber falou sobre a repentina proliferação de botões em um dispositivo criado para economizar tempo. "Há um excesso de botões, 92 deles, para ser exato (...). Eu contei os botões que realmente pressionei - não os que pressionei com mais frequência, mas os que pressionei, ponto final: 34. " "A chegada da televisão a cabo nos anos 80, com dezenas ou centenas de canais marcou o início de uma era em que os controles remotos programáveis precisavam operar muitas funções diferentes e uma diversidade de televisores", diz Beschloss. "Os controles remotos, como os próprios sistemas a cabo, tornaram-se mais difíceis de manusear." Mas, nos últimos anos, o cenário mudou. Podemos estar voltando a outra época de ouro do controle remoto - em parte graças ao fato de que não estamos assistindo a tanta TV. Além disso, não precisamos necessariamente manusear nossos controles remotos. "Não apenas estamos nos movendo em direção à capacidade de usar nossos smartphones para operar todos os nossos dispositivos domésticos, mas agora estamos vendo dispositivos sem fio que funcionam a partir de um comando de voz", diz Beschloss. "Assim, em vez de procurar seu controle remoto debaixo do sofá, você só precisa informar ao dispositivo sem fio qual programa ou canal deseja assistir na tela de sua TV".
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