De Marte para a Lua!


Como você já deve ter lido aqui, a sonda InSight conseguiu pousar com sucesso em Marte nesta última segunda feira (26). Depois de 7 minutos de terror, tudo funcionou impecavelmente e, logo após seu pouso, a sonda enviou uma foto daquelas com lente olho de peixe coberta de poeira para que os cientistas da missão tivessem uma ideia do seu local de pouso. Debaixo da poeira toda dá para ver que a sonda pousou bem pertinho de uma rocha que poderia deixar a sonda inclinada, caso pousasse sobre ela. Depois de aliviados, o pessoal comentou que já sabiam onde não colocar o termômetro e o sismógrafo. Mesmo depois do pouso ainda havia outro momento crítico, a abertura dos painéis solares. Lá no JPL, eu fiquei sabendo que as partes móveis das sondas são um verdadeiro terror para os engenheiros. As naves sofrem acelerações e desacelerações brutais e, pior ainda, trepidam demais durante o lançamento. Aí você sabe, tudo o que é móvel pode engripar. Se os painéis não se abrissem, toda a missão estaria perdida, mesmo com o sucesso do pouso. A sonda funciona com eletricidade e deixou a órbita de Marte com as baterias repletas, mas elas foram se consumindo no caminho até a superfície e, uma vez nela, poderiam durar algumas horas apenas. Sem os painéis abertos para recarregá-las, as baterias morreriam. Quem deu o OK final foi a sonda mais antiga em operação em Marte, a Mars Odyssey. Quando ela orbitou por cima da InSight, captou os sinais de telemetria que indicaram que a carga das baterias estava aumentando no ritmo esperado para a situação de painéis plenamente abertos e funcionais. E com ela veio essa foto maravilhosa do deque de instrumentos da nave com seu braço robótico já começando os primeiros testes. Mars Insight: câmera instalada no braço robótico da sonda envia imagem de Marte feita no dia 26 de novembro. Mars Insight/Nasa E durante as próximas semanas será assim, com muitos testes para saber se todos os instrumentos e equipamentos estão também plenamente funcionais. Além disso, a InSight começa a fazer um mapa em 3D do seu entorno para escolher o melhor lugar para depositar o sismógrafo, talvez ainda nesse ano, e começar a martelar o termômetro para deixa-lo a uma profundidade de 5 metros. Mas se você curtiu a emoção do pouso em Marte, pode continuar na expectativa que até o fim do ano tem mais. Ou ao menos eu espero. O programa lunar chinês tem três etapas e cada etapa é composta por duas naves. Primeiro a etapa de módulos orbitadores, com as Chang’e 1 e 2, segundo com os módulos de pouso, com as Chang’e 3 e 4 e depois com os módulos de retorno de amostras, Chang’e 5 e 6. Você deve se lembrar da Chang’e 3 que pousou em 2013 e que liberou o jipinho Yutu. Infelizmente o simpático jipe não durou muito, ao que parece os seus painéis retráteis emperraram e impediram um isolamento térmico eficiente para os instrumentos e eles acabaram pifando. Agora é a vez da Chang’e 4. Eu espero. Tanta cautela tem uma explicação simples, trata-se do programa espacial chinês, ou seja, a gente sabe apenas aquilo o que eles querem que a gente saiba. E quando eles quiserem que a gente saiba. De acordo com a parte do programa espacial chinês que foi divulgada recentemente, o lançamento da sonda Chang’e 4 será agora dia 07 de dezembro e tem como objetivo pousar no lado oculto da Lua. A Lua está “travada” gravitacionalmente à Terra, ou seja, ela gira ao redor de nós mostrando sempre a mesma face. Desta maneira, o outro lado dela está permanentemente oculto. Ele também é chamado de lado distante, principalmente em inglês e se você pensou no lado escuro, se enganou. É claro que a Lua tem um lado escuro e na Lua Cheia ele é exatamente o lado oculto, mas ele não tem nada a ver com uma parte misteriosa da Lua, acessada apenas na década de 1960, inicialmente por sondas soviéticas. Modelo da Chang’e 4 Chinese National Space Agency A Chang’e 4 é um clone da sonda anterior, ou seja, um módulo de pouso e um jipe lunar, que deverão executar diversas medidas científicas. Essa será a primeira vez que um pouso no lado oculto será feito. As dificuldades para isso acontecer começam pelo óbvio, como essa face está constantemente oculta, não há como estabelecer uma ligação de direta de comunicação com a Terra. Para resolver esse problema, a China lançou em maio deste ano o satélite Queqiao, para servir de ponte entre o comando da missão e o módulo de pouso. Satélite chinês de retransmissão Qequiao Chinese National Space Agency O Queqiao, que em chinês significa “ponte das pegas” (uma espécie de corvo), está em uma órbita especial que permite enxergar simultaneamente a Chang’e 4 na superfície lunar e a Terra ao fundo. Junto com o Queqiao, partiram 2 microssatélites que também se direcionaram para o lado oculto, mas um deles falhou em estabelecer sua órbita e o segundo está em uma órbita de altura bem baixa e já nos enviou essas fotos. Borda da cratera Petropavlovsky com a Terra ao fundo. Chinese National Space Agency Superfície lunar Chinese National Space Agency O microssatélite carrega radiotelescópios para estudar o universo em frequências incapazes de atravessar a nossa ionosfera. Além disso, ele utiliza a própria Lua para bloquear as transmissões de rádio da Terra que impediriam as observações. Por esses motivos nunca foram feitas observações nessas frequências e muita coisa interessante deve estar sendo descoberta! Se tudo der certo, o pouso do módulo deve ocorrer no começo do ano que vem apenas. Tomara que dessa vez os chineses sejam um pouco mais generosos, liberando imagens desta missão fantástica!

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