Melhore com a idade, ensina professor da Universidade da Califórnia
Estar de bem com a vida depende de exercício, conexões sociais e ter objetivos Alan Castel é professor do departamento de psicologia da UCLA (Universidade da Califórnia) e acabou de lançar “Better with age: the psychology of sucessful aging” (“Melhorando com a idade: a psicologia do envelhecimento bem-sucedido”). Sua visão é otimista e coalhada de exemplos inspiradores: Claude Monet, por exemplo, só começou a pintar seus lírios d´água com 73 anos. Cita também Mark Twain, Paul Cézanne e Virginia Woolf, cujos melhores trabalhos foram realizados quando estavam mais velhos. Alan Castel, professor da Universidade da Califórnia: receita para aproveitar os benefícios que a idade pode trazer Divulgação/UCLA “Há muitos estereótipos negativos envolvendo a velhice, mas estudo o envelhecimento há duas décadas e também vi um número significativo de exemplos impressionantes. Enquanto outros livros focam em como evitar ou postergar o envelhecimento, o que eu proponho é como é possível aproveitar os benefícios que a idade pode trazer”, explicou quando lançou a obra, no começo de novembro. Castel, que é o coordenador do laboratório de memória e cognição da universidade, se vale de centenas de pesquisas e tenta aliar conceitos da psicologia a lições de pessoas que, durante a velhice, se mantiveram ativas e de bem com a vida. Um dos estudos utilizados por Castel foi realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard, em 1979. Idosos com idades variando entre 70 e 80 anos foram levados para um motel que teve todos os seus ambientes adaptados como se o ano fosse 1959. Até a música tocada era a de duas décadas atrás. Depois de uma semana no local, os homens, que eram dependentes de cuidados familiares, apresentavam melhora relevante em testes que avaliavam audição, memória e força. Ou seja, há um componente psicológico que nos torna mais velhos, quando ainda temos energia dentro de nós. Aliás, ele conta que quando idosos fazem um teste de memória ou uma avaliação de demência, seus resultados são piores do que quando são avisados de que farão um teste de inteligência. Para garantir que corpo e cérebro funcionem, exercício é fundamental, como ele mostra usando um levantamento feito em 2011. Foram comparados dois grupos de idosos: um andava 40 minutos, três vezes por semana; o outro fazia alongamento com a mesma frequência. Depois de seis meses, o grupo que andava superava o que apenas se alongava nos testes de memória e cognição. Um ano depois, o grupo que caminhava apresentava um aumento de 2% no volume do seu hipocampo, região do cérebro associada à memória. Dormir é igualmente importante, já que estudos mostram uma conexão entre insônia e o desenvolvimento de demências. Ele afirma que um estado de bem-estar consigo mesmo, que se poderia chamar de felicidade, é o equivalente a um bônus: ganha-se de quatro a dez anos de vida. Castel lança mão de mais estudos: um revelou que idosos entre 75 e 85 anos que gostavam de ler, tocar um instrumento ou dançar estavam mais protegidos do declínio cognitivo. E, segundo ele, criar objetivos a serem alcançados produz um efeito rejuvenescedor: “é importante que sejam metas específicas. Prometer a si mesmo que vai comer de forma mais saudável acaba não levando a um resultado, mas estabelecer que biscoitos e outras guloseimas não serão consumidos depois do jantar é bem mais efetivo”. Por último, mas não menos importante, as relações sociais. A solidão crônica vem roubando a saúde e anos de vida dos idosos. “Fique conectado”, diz Castel, “mas não com a internet, e sim com gente”.
Texto completo