'Boneca Russa': Três teorias científicas que podem explicar a trama da série do Netflix


O seriado envereda por um labiritinto que desafia os limites de nossa mente. Quando você pensa que entendeu a trama, alguém sugere uma nova interpretação. Natasha Lyonne como Nadia Vulvokov em 'Boneca russa' Divulgação/Netflix Alerta de spoiler: esta reportagem contém detalhes da trama da série. Se você conseguiu passar do quarto episódio da série "Boneca Russa", do Netflix, aí não tem mais volta - bem, na verdade, isso depende de como você define o tempo. A trama pode parecer um pouco repetitiva e confusa no começo, mas, pouco a pouco, envolve o espectador e dá pistas para entender por que sua protagonista, Nadia Vulvokov (Natasha Lyonne), morre e volta à vida incessantemente no dia do seu aniversário. A série trata de vários temas relacionados a videogames, saúde mental, dramas existenciais e dificuldades em relações pessoais. Tudo isso poderia servir para explicar os ciclos que se repetem a cada episódio, mas, do ponto de vista científico, há outras pistas que ajudam a sair do labirinto criado pela história. Para entender como a ciência pode explicar a trama de Boneca Russa, consultamos Clifford Pickover, doutor em biofísica molecular da Universidade Yale, nos Estados Unidos, e pesquisadores do Laboratório Thomas J. Watson da IBM, onde trabalha em experimentos com inteligência artificial e computação quântica. Pickover obteve mais de 500 patentes nos Estados Unidos, é o autor de The Physics Book: From the Big Bang to Quantum Ressurrection (Sterling, 2011; O Livro da Física: do Big Bang à Ressurreição Quântica, em tradução livre) e foi consultor de empresas como Google, Twitter, LinkedIn e Activision. Conheça a seguir os três "conceitos fascinantes", como diz Pickover, que poderiam explicar Boneca Russa. 1. Os multiversos No sétimo episódio, Nadia tira da geladeira uma laranja podre para explicar a Alan (Charlie Barnett), que também revive o mesmo dia como ela, a possibilidade de eles estarem em um mundo de quatro dimensões. "Nosso universo tem três dimensões espaciais", diz Nadia. "Por isso, para nós, é difícil imaginar um mundo de quatro dimensões, mas os computadores fazem isso o tempo todo." Esta quarta dimensão poderia fazer referência a um universo que é desconhecido para nós. Como explica Pickover, algumas interpretações da teoria quântica sustentam que "todos os passados e futuros alternativos são reais, cada um deles representando um universo em si mesmo". Será esta a explicação para a laranja que Nadia corta estar podre por fora, mas ainda boa por dentro? A cena também serve para explicar a relatividade do tempo da qual falou Albert Einstein. No fim da série, quando Nadia e Alan se encontram consigo mesmos durante um desfile, ganha força a teoria dos multiversos que se encontram entre si. 2. A teoria do caos Pickover explica que a teoria do caos, estudada em áreas como física, mecânica e matemática, sugere que "muitos sistemas naturais são altamente sensíveis às condições iniciais". Estes sistemas, ainda que possam ser regidos pelas leis que os governam, podem ser alterados por pequenos acontecimentos que parecem ser insignificantes. "Esta é uma metáfora de nossas vidas", diz Pickover. "Por exemplo, um dia você acorda uma hora mais cedo, e toda sua vida pode mudar totalmente e de forma imprevisível." Na série, a teoria do caos fica evidente. O que teria acontecido se Nadia não tivesse atravessado a rua? O que ocorre se desce de seu prédio não pela escada principal, mas pela de emergência? 3. As viagens no tempo "A vida é uma caixa de linhas do tempo", diz Nadia ao conversar com o idoso que não a deixa entrar em um prédio. Pickover explica que alguns dos conceitos que indicam que seria possível teoricamente viajar no tempo afirmam que o universo atual não sofreria interferência, mas se ramificaria e começaria a se desenvolver como um universo à parte. Desta maneira, o universo original seguiria seu curso normalmente, sem ser afetado pelo fato de que uma pessoa tenha viajado ao passado. Nadia e Alan podem, sob este conceito, reviver os mesmos acontecimentos várias vezes, como um déjà vu que dá a eles a oportunidade de consertar os erros cometidos no passado. "Claro que tudo isso é hipotético", diz Pickover. "Não acredito que haja evidências de pessoas que viajaram ao passado." Ainda que seja impossível, por enquanto, o conceito de viajar no tempo inspirou um dos paradoxos mais fascinantes da ciência: o que aconteceria se um jovem viajasse ao passado e matasse sua avó antes que ela desse à luz a mãe do rapaz? A resposta nos levará por caminhos infinitos de multiversos, caos e linhas de tempo relativas, como uma boneca russa.

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