Estudo aponta desigualdade no envelhecimento da população negra


Cenário desfavorável tem que ser combatido com a adoção de políticas públicas voltadas para esse grupo No começo do mês, a Revista Brasileira de Epidemiologia publicou estudo intitulado “Iniquidades raciais e envelhecimento”, realizado por sete pesquisadores. O levantamento foi feito a partir da análise de informações do SABE (Estudo Saúde, Bem-estar e Envelhecimento), que acompanha a população idosa de São Paulo. Neste caso, foram considerados os dados de 1.263 idosos da coorte de 2010 e a proposta era fazer uma análise comparativa, numa perspectiva racial, do perfil sociodemográfico, das condições de saúde e do uso de serviços de saúde. Os resultados evidenciaram um cenário mais favorável para o envelhecimento das pessoas de cor branca em comparação com aquelas de cor parda ou preta. “Quisemos apresentar cor e raça como indicadores sociais, e não biológicos, e com isso abrir espaço para uma discussão mais ampla sobre a necessidade de ações intersetoriais para corrigir esse quadro. A pesquisa mostra um trabalhador negro com condições de saúde precárias que, mesmo doente, não pode parar de trabalhar porque não dispõe de proteção social”, afirmou Alexandre Silva, professor-adjunto da Faculdade de Medicina de Jundiaí e um dos autores do trabalho. Segundo estudo, idosos pretos e pardos foram os que menos possuíam plano privado de saúde By The Photographer - Own work, CC BY-SA 4.0, https://ift.tt/2GPXvOC Acho que vale uma explicação sobre o SABE e a coorte, porque o assunto parece complicado, mas não é. O SABE teve início no ano de 2000, com o objetivo de traçar o perfil das condições de vida e saúde em sete centros urbanos da América Latina e do Caribe. No Brasil, foi desenvolvido na cidade de São Paulo onde foram entrevistadas 2.143 pessoas (a chamada Coorte A, ou seja, um grupo com certas características semelhantes) com idade igual ou superior a 60 anos, selecionadas por amostra probabilística. Em 2006 foram localizadas e novamente entrevistadas 1.115 pessoas do grupo ou Coorte A, introduzindo-se uma outra amostra de idosos com idade de 60 a 64 anos (Coorte B, com 298 indivíduos). A entrada de novos indivíduos ajuda a identificar as transformações que ocorrem no processo de envelhecimento entre as diferentes gerações. Em 2010 foi realizado o mesmo processo de localização e entrevistas das coortes A e B e introduzida nova coorte de 60 a 64 anos, incluindo mais 355 pessoas. Dessa forma, o painel vai sendo recomposto e o monitoramento permanece dinâmico, refletindo o perfil da população mais velha. Entre os aspectos econômicos, a pesquisa mostrou que houve uma concentração de pardos e pretos que responderam não ter renda suficiente para as despesas diárias – nesses mesmos grupos há a menor média de escolaridade. Pretos (38,6%) e pardos (38,3%) também foram os que mais disseram trabalhar à época das entrevistas. Os idosos pretos (25,7%) e pardos (30,2%) foram os que menos possuíam plano privado de saúde e também foram eles que pagaram os menores valores médios por esses planos. Boa parte dos entrevistados (50,3%) avaliou sua própria saúde como boa ou muito boa. No entanto, a proporção diminui considerando os entrevistados pretos (41,8%). O pior padrão de saúde dos idosos pretos e pardos observado no estudo está relacionado principalmente com as altas prevalências de hipertensão arterial, diabetes e acidente vascular cerebral. Diabetes e as doenças hipertensiva e cerebrovasculares têm sido apontadas como causas importantes de mortalidade em pessoas de cor preta no Brasil, assim como nos Estados Unidos. Entre os brasileiros, as doenças cerebrovasculares foram mais associadas à pobreza em períodos precoces da vida, e entre os norte-americanos esse tipo de agravo foi maior nos negros em razão das constantes situações de subdiagnóstico e subtratamento às quais estiveram submetidos. Os problemas de saúde mental são outro aspecto das condições de saúde no qual as populações preta e parda se diferenciam negativamente da branca. Entre pretos e pardos, verificaram-se maiores proporções de comprometimento cognitivo, reforçando a concepção de que a desigualdade de renda imprime efeitos psicossociais. Além do professor Alexandre da Silva, os autores do trabalho foram Doralice Severo da Cruz Teixeira, Luís Eduardo Batista, Maria Lúcia Lebrão, Marília Louvison, Suzana Kalckmann e Tereza Etsuko da Costa Rosa.

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