Um tiro certeiro


Asteroide Ryugu Jaxa Em dezembro de 2014, a agência espacial japonesa (Jaxa) lançava sua sonda Hayabusa-2 com uma missão ousada, estudar de perto o asteroide Ryugu. Além de carregar quatro jipes saltitantes para explorar o asteroide, a missão foi planejada para recolher amostras para enviá-las à Terra para análise. A parte de soltar os jipes para explorar Ryugu aconteceu em setembro e outubro do ano passado, quando três dos jipinhos foram largados próximos à superfície do asteroide para que sua gravidade, apesar de muito baixa, os capturassem. Justamente pelo asteroide ter uma gravidade muito baixa, os jipes foram projetados para se mover aos saltos, através de um mecanismo interno. Se dependessem de rodas, por exemplo, o baixo peso dos equipamentos não seria capaz de fazer as rodas se manterem pressionadas contra a superfície e com isso elas patinariam. Dois desses jipinhos ainda estão operacionais e em meados de 2019 o último deverá se juntar a eles. Já a parte mais esperada e perigosa da missão aconteceu na semana passada, entre os dias 20 e 22 de fevereiro. No dia 20, a Hayabusa-2 começou seu lento movimento de descida, partindo de uma órbita de uns 20 km de altura, para chegar a coisa de 1 a 2 metros. O local escolhido para colher a amostra não pode ser atingido, mas isso já se sabia de antemão. É que a sonda iria se orientar automaticamente usando uma peça com alta refletividade que ela mesma lançara assim que os cientistas da missão identificaram uma região interessante. O problema é que a sonda teve dificuldade em localizar a peça, pois o terreno em que ela caiu não era tão escuro quanto se esperava e desse jeito o contraste entre a peça e o terreno ficou mais baixo do que as câmeras da sonda precisavam. O jeito foi fazer a sonda se posicionar mais ao lado, mas com algum risco de se chocar com duas rochas grandes. Isso disparou o temor de que a missão tivesse problemas como sua antecessora, a Hayabusa-1. O que aconteceu é que em 2005 a sonda passou por uma série de problemas que fizeram com que ela falhasse em efetivamente tocar a superfície do asteroide Itokawa para recolher uma amostra. O processo em si até que aconteceu, entre trancos e barrancos, mas em resumo a nave abriu seu compartimento de armazenagem mais distante do que deveria e acabou recolhendo apenas alguns poucos grãos da poeira do asteroide. Esses poucos grãos é que garantiram o sucesso da missão, ao menos ninguém ficou de mão vazias. Mas com a Hayabusa-2 a coisa foi diferente. Mesmo com esse probleminha de baliza, digamos assim, a sonda chegou no ponto previsto, pairando a baixa altitude e atirou contra o asteroide. Sim, isso mesmo que você leu, a sonda disparou um projétil contra Ryugu! O material que foi lançado para o espaço foi recolhido em um recipiente e foi depois armazenado. A ideia de fazer esse procedimento tem dois motivos principais. O primeiro é evitar uma possível contaminação do asteroide por micro organismos terrestres que tenham ido de carona na sonda. O segundo motivo é não causar torques que fizessem a nave se desestabilizar quando tocasse a superfície. Bastaria a sonda ter um pequeno movimento lateral para isso acontecer e nesse caso ela giraria sem controle e a missão correria sério risco de fracassar. De acordo com o controle da missão, todos os passos de descida, disparo, coleta e ascensão da Hayabusa-2 foram um sucesso, só não deu para garantir um detalhe: que a nave realmente tenha coletado alguma coisa. É que ninguém incluiu um mecanismo para avaliar o sucesso da coleta. Não dá para pesar o recipiente para saber se tem alguma coisa dentro porque simplesmente não tem gravidade para isso. A sonda OSIRIS-REx, que vai recolher amostras do asteroide Bennu, deve executar algumas manobras para avaliar se sua massa total aumentou, de acordo com a resposta a esses movimentos. Mas por todas as fotos que a sonda fez durante as etapas do procedimento tudo leva a crer que ela de fato recolheu algum material. Por exemplo, essa foto foi obtida no momento em que a nave estava a 25 metros de altitude se afastando do local do disparo. Além da sombra da Hayabusa-2, é possível ver uma área de coloração bem diferente do resto da superfície, em um padrão idêntico ao efeito de um disparo. A sonda ainda deve fazer mais duas coletas, além do lançamento do último jipe, o que significa que ainda tem mais emoção pela frente! A terceira coleta deve ser ainda mais interessante, pois a sonda deve recolher material abaixo da superfície de Ryugu, mas esse é assunto para outra coluna!

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