Empatia e acolhimento definem relação com paciente e família
Para psicóloga, reconhecer a singularidade de cada caso é fundamental Participei do XVI Simpósio Alzheimer de A a Z, que ocorreu no dia 25 de maio no Rio de Janeiro, para falar sobre a responsabilidade que nós, jornalistas, temos no que diz respeito à divulgação de notícias que sejam confiáveis e não criem falsas expectativas. Sugerir que um medicamento ainda em testes ou uma pesquisa em fase inicial possam curar a doença é uma irresponsabilidade que fere os pacientes e suas famílias. No meio de tantos especialistas da área da saúde, minha contribuição foi propor que devemos unir forças na luta por informação de qualidade. Isso inclui os médicos, que devem indicar fontes de consulta de confiança – do contrário, as pessoas continuarão expostas às fake news. Para se ter uma ideia do tsunami de dados disponíveis, quando se digita “cura do Alzheimer” num mecanismo de busca, há 8.4 milhões de respostas apenas relativas ao ano de 2019. A psicóloga Natalia Baratta Gil: " a relação com o paciente e família é única e tem que ser baseada em empatia e acolhimento” Mariza Tavares A angústia e a mobilização por notícias não se restringem às famílias com entes queridos que sofrem de Alzheimer. A psicóloga Natalia Baratta Gil, que há cinco anos coordena o serviço de psicologia numa grande clínica de oncologia, era uma das integrantes da mesa. Na sua experiência clínica, constatou que sonhar com uma “pílula do câncer”, capaz de acabar com a enfermidade, é uma esperança recorrente. “Pacientes e famílias chegam repletos de informações, muitas colhidas no ‘doutor Google’, e isso vem modificando a relação com os profissionais de saúde. A chave é escutar. Mesmo que tenham a doença em comum, cada um tem sua história. Há protocolos que regem os tratamentos clínicos, mas a construção da relação com o paciente e família é única e tem que ser baseada em empatia e acolhimento”, afirmou. Natalia ressaltou o pesado processo de luto que envolve qualquer doença: “há o luto pela perda do corpo saudável, pela rotina que é invadida por procedimentos médicos, pelos planos que foram suspensos indefinidamente. Havia um mundo presumido que é substituído pelo desconhecido. Essa experiência é tão absorvente, e se instala tão fortemente, que tudo o mais perde importância”, acrescentou. Nesse quadro, reconhecer a singularidade de cada caso é fundamental: “uma clínica realiza dezenas de sessões de quimioterapia por dia, mas cada pessoa que está ali vive a experiência de uma forma”, finalizou.
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