'A gente não cria oportunidade', diz Silvio Meira sobre participação de mulheres na ciência
Fundador do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR) falou sobre pesquisa que aponta baixa representatividade de mulheres entre bolsistas de matemática no CNPq. Silvio Meira realizou palestra na TV Globo Recife Pedro Alves/G1 "A gente não estimula, não cria oportunidade, porque existe uma tradição familiar de que engenharia é ambiente para homens", é o que disse o cientista Silvio Meira, ao comentar o levantamento feito pelo G1, nesta sexta-feira (26). O trabalho mostra que mulheres representam, atualmente, 11% das bolsas de pesquisa em matemática, probabilidade e estatística do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O pernambucano Silvio Meira é professor doutor em ciência da computação, empreendedor, fundador do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR) e presidente do conselho do Porto Digital. Em palestra realizada na TV Globo, nesta sexta, ele falou sobre as mudanças provocadas pela era digital. Para Silvio Meira, a baixa presença de representantes do sexo feminino nas áreas de tecnologia acontece porque a ciência ainda não consegue atrair mulheres o suficiente para carreiras como engenharia. "No Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), menos de 10% dos alunos de graduação são mulheres. Nas áreas mais técnicas, a quantidade de mulheres fazendo graduação é muito pequena. É um ponto de vista profundamente errado, porque qualquer trabalho digno e decente é trabalho para qualquer pessoa", afirma o cientista. Essa baixa entrada de mulheres nas graduações técnicas, segundo Silvio, pode ser solucionada a partir de políticas públicas que incentivem a participação feminina na ciência. "O erro não está lá em cima, de você ter participações iguais nos pedidos de bolsa, mas um problema estrutural da sociedade brasileira e do mundo. A participação das mulheres no mundo científico é desproporcional, para muito menor, do que a participação de mulheres como indivíduos na sociedade. Políticas públicas de longo e amplo alcance têm que ser usadas para resolver isso", diz Silvio Meira. Mudanças Segundo Silvio Meira, um dos reflexos da ampla digitalização dos serviços é a uma mudança na forma como o trabalho é demandado e como ele é realizado. Isso se materializa, por exemplo, nos aplicativos em que o consumidor demanda, online, serviços a serem realizados. "Se você for numa empresa qualquer do Porto Digital, vai descobrir que ela tem programadores no Recife, em Santa Catarina, mas na Polônia e Hungria. O trabalho está se descolando do emprego. Tenho, por exemplo, um designer de marcas que mora no Paquistão. Ele trabalha para mim, mas não é meu empregado. Ele não quer sair de lá e já está fazendo escola, porque hoje tem dois ajudantes", explica Silvio Meira. Chief Business Officer (CBO) do CESAR, Eduardo Peixoto, um dos palestrantes, falou sobre a velocidade com que as empresas têm se adequado à maior penetração da internet nas sociedades. "A tecnologia acontece de forma muito mais rápida do que a gente consegue entender. Depois que a gente entende, leva um tempo ainda maior para que as empresas consigam acompanhar. O modelo de negócio é fundamental nessas mudanças. A tecnologia é um alimentador", diz.
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