Mães relatam rotina em único centro do SUS para microcefalia no Sudeste: 'Tranquiliza'
Brasil tem 10 unidades com serviços gratuitos de psicologia, pedagogia, assistência social e terapia ocupacional para crianças com até 6 anos e familiares. A auxiliar veterinária Bruna Vasconcelos e o filho Renato, de 3 anos, no Centro-Dia de Ribeirão Preto (SP) Pedro Martins/G1 A vida da auxiliar veterinária Bruna Vasconcelos, de 26 anos, mudou por completo após o nascimento do filho Renato, diagnosticado com microcefalia em decorrência do Zika vírus. O menino tem dificuldade para respirar e comer, e muitas vezes precisa ser levado às pressas ao hospital. Foi durante uma dessas internações, em Ribeirão Preto (SP), que Bruna encontrou esperança em oferecer uma condição de vida melhor ao filho. Ela conheceu o Centro-Dia, uma das 10 unidades que existem no país, especializadas em atender crianças com microcefalia e seus familiares. "Eles leem, contam historinhas, trabalham a parte cognitiva. São atividades evolutivas para ele e de acolhimento para mim. Tenho aula de artesanato, de costura. Ver meu filho feliz é incrível, me faz feliz. Saber que ele está em boas mãos me tranquiliza." Criadas há dois anos pelo Ministério da Cidadania, as unidades do Centro-Dia oferecem atendimento psicológico, pedagógico, terapia ocupacional e assistência social. Os núcleos são custeados por União e governos estaduais, e geridos pelas Prefeituras. O projeto surgiu após um surto de Zika no país em 2015, quando gestantes infectadas pelo vírus tiveram bebês com microcefalia. A gravidade do caso levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar situação de "Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional". Além de Ribeirão Preto, há unidades de atendimento em Salvador (BA), Teresina (PI), São Luiz (MA), Arapiraca (AL), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB), Natal (RN), Cuiabá (MT) e Campo Grande (MS). "Além de dar suporte às crianças, eles atendem às mães", afirma Bruna. "É uma terapia social. Não trabalha com a saúde. Elas cuidam, brincam. O trabalho principal é diminuir esse fardo nas nossas costas. É dar um pouco mais de tranquilidade para nós", completa. A recepcionista Gisele Klemp e a filha, Ana Letícia, no Centro-Dia de Ribeirão Preto (SP) Pedro Martins/G1 Todas as quartas e sextas-feiras, Renato passa o dia na instituição. Enquanto isso, Bruna participa de atividades oferecidas pelo próprio Centro-Dia, como aulas de artesanato. "Enquanto as crianças são cuidadas, as mães têm oportunidade de fazer um curso, aprender algo, ou até mesmo distrair a cabeça. Somos as pernas deles, as vozes deles, os olhos deles. Somos tudo, então a gente também precisa de cuidado", desabafa. Entre idas e vindas ao hospital, Bruna conheceu a recepcionista Gisele Klemp, de 38 anos, que é mãe da Ana Letícia, também diagnosticada com microcefalia. A menina passou a ser atendida no Centro-Dia, junto com outras 49 crianças. "Eles ajudam também com a parte burocrática, porque têm a assistência social, advogado. Com essas questões que a gente não consegue sozinha, eles sempre dão suporte. Algumas crianças têm quase cinco anos e a mãe ainda não conseguiu nenhum benefício", diz Gisele. Além de Ana Letícia, de 3 anos, a recepcionista também é mãe de Daniel, de 8 anos. Gisele conta que, no início, o menino teve dificuldade para lidar com as limitações da irmã. Por isso, ele também passou a ser atendido por um psicólogo no Centro-Dia. "Ele convive com outras crianças, então chega em casa e me conta do Renato, do Abraão, fala de todo mundo. Ele viu que não é só a irmã dele, que não é um bicho de sete cabeças, que realmente é difícil, mas ele faz parte disso agora e fica feliz", afirma a mãe. A recepcionista Gisele Klemp com os filhos Ana Letícia e Daniel no Centro-Dia de Ribeirão Preto (SP) Pedro Martins/G1 Chefe da seção de atendimento e assessoria às entidades da Secretaria Municipal de Assistência Social, Telma Vendrúscolo explica que Ribeirão Preto foi escolhida para sediar uma unidade do Centro-Dia em razão do número de bebês com microcefalia em decorrência do Zika vírus. Desde 2017, quando o governo federal lançou o projeto, a Prefeitura trabalhava na implantação da instituição, que passou a funcionar em setembro e, atualmente, é gerida pelo Instituto Limite, uma associação civil sem fins econômicos e lucrativos. "Colocamos de zero a 3 [anos] como prioridade, em razão da estimulação precoce. Mas é de zero a 6 [anos]. A criança com microcefalia demanda muito das famílias, então quando você traz essa criança, traz [também] o grupo de irmãos, os pais. É uma forma de apoio que a gente dá." O Centro-Dia de Ribeirão Preto tem capacidade de realizar 150 atendimentos por mês, mas hoje tem 50 crianças cadastradas. Telma afirma que o serviço foi estendido a meninos e meninas com outros tipos de deficiência, desde que recebem benefício de prestação continuada (BPC). "Cada criança tem um plano individual específico. A gente chama de PIA – plano individual de atendimento –, que são as ações que a terapeuta ocupacional vai fazer com os cuidadores e também o trabalho do assistente social e do psicólogo com essas famílias", explica. Chefe da seção de atendimento a assessoria às entidades da Prefeitura de Ribeirão Preto, Telma Sanchez Vendrúscolo Pedro Martins/G1 A auxiliar de limpeza Patrícia Veloso também é atendida com o filho Abraão, de 3 anos, no Centro-Dia de Ribeirão Preto. Ela trabalhava em uma casa de repouso, mas abandonou o emprego para se dedicar ao menino, diagnosticado como microcefalia ao nascer. Patrícia tem outros dois filhos, de 16 e 21 anos, e conta que a mudança de vida para cuidar do caçula foi radical. Na instituição, ela encontra apoio nos momentos mais difíceis e diz que o atendimento tem sido importante para o desenvolvimento intelectual de Abraão. "Está sendo um lugar que me acolhe, me ampara, onde me sinto bem. Eles entendem meu problema, me orientam, tiram dúvidas. Eles entendem tudo que está passando com a criança. A gente fica tranquila, porque nossos filhos estão na mão das cuidadores e todos são atenciosos, carinhosos", finaliza. A auxiliar de limpeza Patrícia Veloso com o filho Abraão, de 3 anos, no Centro-Dia de Ribeirão Preto Pedro Martins/G1 *Sob supervisão de Adriano Oliveira Veja mais notícias da região no G1 Ribeirão Preto e Franca
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