A surpreendente descoberta do primeiro animal que pode viver sem oxigênio
Uma equipe de cientistas descobriu um pequeno parasita multicelular que não precisa respirar. O parasita se aloja no salmão e forma uma espécie de cisto Stephen Douglas Atkinson Durante anos, os cientistas acreditaram que o oxigênio era uma das bases fundamentais para a vida animal. E realmente é, embora existam alguns microorganismos, como bactérias, que podem viver em ambientes anaeróbicos — algo até agora impensável para organismos multicelulares. No entanto, uma equipe de cientistas descobriu um pequeno parasita que não precisa respirar. A descoberta não apenas muda a maneira como entendemos a vida em nosso planeta, mas também pode sugerir novos caminhos para a busca por vida extraterrestre. De acordo com um estudo publicado esta semana na revista científica americana PNAS, o Henneguya salminicola vive nos tecidos do salmão e evoluiu de tal maneira que não precisa mais de oxigênio para produzir energia em seu metabolismo. "Nossa descoberta mostra que a respiração aeróbica, uma das vias metabólicas mais importantes, não é onipresente entre os animais", afirma uma pesquisa liderada pela Universidade de Tel Aviv. Até agora, acreditava-se que todas as plantas e animais usavam oxigênio para gerar um combustível chamado trifosfato de adenosina (ATP), que aciona os processos celulares e ocorre nas estruturas celulares chamadas mitocôndrias. No entanto, o estudo mostrou que esse pequeno animal com apenas 10 células perdeu suas mitocôndrias em algum momento e não baseia sua produção de energia em nenhuma das formas conhecidas até hoje entre os organismos multicelulares. O que se sabe sobre esse organismo? O Henneguya salminicola é um parasita minúsculo de apenas 10 células que infecta o salmão e causa cistos na musculatura esquelética do peixe. Segundo o Departamento de Pesca dos Estados Unidos, ele é comumente encontrado no Alasca e causa uma condição chamada "doença da tapioca" ou "doença da carne com leite". Dorothée Huchon, a principal autora do estudo, disse à imprensa americana que a descoberta veio quase por acaso, depois que eles tentaram detectar as mitocôndrias do parasita. Mas, embora se parecessem com outros organismos semelhantes, os cientistas não conseguiam encontrar uma estrutura mitocondrial na salminicola, algo impensável até agora em organismos multicelulares. "Nossa descoberta confirma que a adaptação a um ambiente anaeróbico não é exclusiva dos eucariotos unicelulares, mas também evoluiu para um animal parasitário multicelular", diz o estudo. Uma das grandes questões que os cientistas têm agora é como esse organismo pode sobreviver sem oxigênio. Uma das teses é que a salminicola perdeu suas mitocôndrias como mecanismo evolutivo, pois, vivendo no interior do salmão, se desenvolve em um ambiente carente de oxigênio. Os cientistas especulam que, por outro lado, o parasita poderia de alguma forma absorver a energia do salmão, embora ainda não se saiba como. Os primeiros organismos do nosso planeta começaram a desenvolver a capacidade de metabolizar o oxigênio — ou seja, respirar — há mais de 1,4 bilhão de anos.
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