Médicos dizem que desmaios mostrados em vídeos que viralizam na China não são sintomas do coronavírus
Imagens, porém, não têm fonte divulgada, origem ou data dos registros. Desmaios e infartos não são sintomas do novo vírus, mas sim febre e tosse, explicam infectologistas. Vídeos que mostram pessoas caindo na rua e no transporte público na China têm viralizado na internet nos últimos dias. Mensagens associadas a eles dizem que se trata de uma reação à ocorrência de casos de coronavírus em Wuhan, na província de Hubei, na China. Infectologistas consultados pelo G1, contudo, afirmam que a infecção por coronavírus não é tão agressiva e os sintomas divulgados nos protocolos internacionais não incluem desmaios. Os Além disso, as imagens não têm fonte, origem ou data dos registros que levem ao estabelecer uma relação direta das imagens com o vírus. Além disso, o G1 consultou intérpretes de chinês que dizem que o que é falado nos vídeos também não faz uma conexão específica com o surto atual. A Embaixada da China no Brasil foi consultada pelo G1, mas diz que não tem elementos que possam situar os vídeos nem dizer se eles são atuais. Análise dos infectologistas O primeiro ponto apontado pelos especialistas é que a evolução dos sintomas também não é tão rápida e agressiva como os casos mostrados nos vídeos. "A instalação da gravidade da doença não é imediata, os sintomas têm uma evolução. Não é caminhar na rua e cair do nada", explica o infectologista da Universidade de São Paulo (USP), Esper Kallas. "O coronavírus causa uma doença respiratória e por isso tem sintomas como tosse e febre. É semelhante aos sintomas de uma gripe" - Esper Kallas, infectologista O infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, Caio Rosenthal, também reforma que os sintomas aparecem paulatinamente. "Não acontece na infecção por vírus que acometem vias respiratórias como o coronavírus de você ir dormir bem, acordar mal no outro dia e morrer em seguida" - Caio Rosenthal, infectologista Rosenthal acrescenta ainda que a taxa de infectados pelo novo vírus que chega a quadros graves é baixa. “É uma doença que ainda estamos aprendendo dia a dia, mas temos visto que são poucos os infectados que evoluirão para algo grave, como uma dificuldade aguda de respirar e até uma pneumonia grave." Relatos fakes crescem Desde que a OMS confirmou o surgimento do novo coronavírus no mundo, em uma nota no dia 31 de dezembro, diversas informações e imagens falas sobre coronavírus começaram a circular nas redes sociais. Kallas alerta para o perigo da circulação dessas mensagens falsas. "Ultimamente, eu tenho perdido mais tempo desmentindo informações falsas do que esclarecendo, de fato, sobre o que é o vírus e o que ele causa, essas coisas. Já me falaram de tomar vitamina C contra vírus e até beber fígado cru batido no liquidificador. É um absurdo." Intérpretes avaliam imagens Si Liao, chinesa, professora de mandarim e criadora da Pula Muralha, canal com vídeos com informações direto da China sobre o coronavírus, e Cesar Matiusso, formado em língua chinesa pela Universidade de São Paulo (USP), analisaram as imagens. Para eles, os detalhes não são conclusivos. Em parte dos casos, não é possível nem sequer dizer que as imagens foram feitas em Wuhan muito menos que sejam atuais. César Matiusso diz que a qualidade do áudio é ruim e afirma que em alguns trechos não é falado mandarim. Há, segundo ele, expressões genéricas sendo ditas, como "tem uma pessoa caída no chão" ou pedidos para que seja chamada uma ajuda rapidamente. Mas nada que indique uma relação direta com o coronavírus ou os últimos acontecimentos. Vídeo mostra homem caído em frente a um vidro com inscrições Reprodução Um dos vídeos começa com imagens de um homem caído ao lado de uma vitrine onde há uma série de inscrições. Uma pessoa vestida de branco o atende. O professor Cesar Matiusso diz que os letreiros mostram apenas "área de autoatendimento". Letreiro diz: área de autoatendimento Reprodução Já Si Liao diz que no vídeo "aparentemente a pessoa está em um hospital". "Há uma fila e é um hospital onde se paga, porque tem caixa. Uma pessoa parece que caiu, mas não se sabe como caiu, o pessoal só está falando 'a pessoa caiu'", diz Si Liao. Segundo ela, não é possível saber o motivo da queda tampouco o hospital ou mesmo a cidade. Homem caído no vagão do metrô Homem caído no Metrô Reprodução A próxima cena é a de um homem caído em um vagão do metrô. Passageiros de máscara o observam. Um guarda parece fotografar ou filmar. "Meio que repetiu duas vezes, porque a pessoa fala "Ah, já já eu vou, já vai chegar" e "a pessoa caiu", diz Si Lao. "Mas esse metrô também não dá para saber qual é nem qual cidade." Pessoa caída em hall de prédio Pessoa caída em hall de prédio Reprodução Em seguida, a imagem é de uma pessoa caída no que parece ser o hall de um prédio. Novamente pessoas com máscaras e aventais estão a postos. "Eu acho que é um hotel e tem uma pessoa deitada. Não se sabe onde é", diz Si Lao. Ambulância socorre homem na calçada Ambulância socorre homem na calçada Reprodução Outra imagem é de uma ambulância estacionada junto à calçada onde um corpo está deitado. Médicos descem do veículo para socorrê-lo. "Esse dá para saber que é Wuhan, porque tem uma placa de rua que fica no bairro de Wuhan e aí chega uma ambulância e a pessoa está falando o dialeto de Wuhan. Falam em levantar a pessoa que caiu e alguém que filmou disse para colocar a máscara." Pessoas caídas em chão de hospital Médico caído em chão de hospital Reprodução O quadro seguinte é dentro de um hospital onde há pessoas no chão, inclusive um homem vestido com jaleco branco. "Me parece que a pessoa que caiu é um médico. Pode ser por cansaço", diz Liao. Um homem cai no estacionamento e é filmado por câmeras de segurança. Segundo o tradutor Cesar Matiusso, no canto da tela está escrito apenas "portão número 2". Homem cai em estacionamento Reprodução Letreiro diz: portão número 2 Reprodução Ambulância socorre homem caído na rua No último vídeo, uma ambulância para no meio da rua, onde há um homem caído. Em uma passarela estão penduradas lâmpadas vermelhas. Pessoas observam. "É uma ambulância de uma cidade de Hubei, que fica na província de origem do vírus", diz Si Lao. César Matiusso diz que no frame dá pra ler na ambulância "Centro de emergência da cidade de Suizhou", que fica na província de Hubei, cuja capital é Wuhan. Na ambulância está escrito "Centro de emergência da cidade de Suizhou" Reprodução Imagens mostram prateleiras de um supermercado vazias e uma movimentação de clientes com máscaras. "A pessoa diz que está ficando louca. Isso aconteceu em Wuhan no primeiro dia de cidade fechada. As pessoas ficaram com medo e foram ao mercado. Pode ser referente a esse acontecimento, mas é um palpite", diz Si Lao. Coronavírus: sintomas, risco no Brasil e tudo o que se sabe até agora Initial plugin text
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