Coronavírus: tire suas dúvidas sobre a pesquisa de medicamentos no combate à Covid-19


Série de reportagens do G1 mostra o que se sabe a respeito do combate ao vírus, desde a reação natural do corpo até o status dos testes in vitro. Microscópio mostra amostra de primeiro caso do coronavírus Sars-Cov-2 nos EUA, isolado em laboratório. Hannah A Bullock; Azaibi Tamin/CDC Cientistas e autoridades de saúde do mundo inteiro ainda buscam um remédio para tratar a Covid-19 e combater o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Embora haja pesquisas e testes em andamento, ainda não há um medicamento específico para a doença. Além disso, o processo para que um tratamento seja declarado eficaz é longo e exige uma série de etapas. Em quatro reportagens, o G1 mostra como o corpo luta contra a infecção, o que se espera dos remédios no futuro, o que os testes já podem fazer e as perspectivas sobre as vacinas. Nesta reportagem sobre medicamentos, você verá: Existe um remédio para tratar a Covid-19? Por que ainda não há um remédio para a doença? O que está sendo feito na busca por um tratamento para a Covid-19? É possível se chegar a um medicamento completamente novo? Por que o medicamento contra H1N1 apareceu mais rápido? Por enquanto, como tratar a Covid-19? Especialistas ouvidos pelo G1 explicam que ainda não há um medicamento específico para tratar a Covid-19, assim como outras doenças causadas por vírus. Assim, autoridades de saúde pelo mundo concentram esforços na busca por fármacos já disponíveis que possam ajudar o corpo a lutar contra o novo coronavírus. Por enquanto, a recomendação é seguir as orientações médicas e NÃO se automedicar. Veja mais detalhes abaixo: 1. Existe um remédio para tratar a Covid-19? Até o momento, NÃO existe um medicamento específico para tratar a doença causada pelo novo coronavírus. O que se faz em caso de contaminação é tratar os sintomas da Covid-19 e esperar que o próprio corpo combata a infecção. Além disso, é importante que as pessoas sigam as recomendações do médicos e NUNCA se automediquem — prática que pode piorar o estado de saúde do paciente. Veja no VÍDEO abaixo quais são os sintomas da Covid-19 Coronavírus: quais os sintomas e quando devo procurar um médico? 2. Por que ainda não há um remédio para a doença? Primeiro, porque trata-se de uma virose nova. Segundo, porque não há tratamento específico para os outros tipos de coronavírus em circulação, o que torna mais lento o processo para que se chegue a um remédio contra a Covid-19. Esse não é um problema só do novo coronavírus, mas de praticamente todas as viroses. Tal dificuldade ocorre porque o vírus é um parasita intracelular obrigatório. Ou seja, eles precisam entrar nas células e iniciar um processo de leitura do próprio material genético para se replicarem — e não atuam fora delas. É o que explica o médico Gerson Salvador, infectologista da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). "O vírus não tem célula. São estruturas muito simples, que têm apenas um material genético e pouquíssimas proteínas", ilustra Salvador. Imagem microscópica do novo coronavírus 2019 n-CoV NIAID-RML/AP "Em uma infecção viral, nosso sistema imune destrói a célula infectada para que ela não seja um local de produção de vírus e de disseminação para o resto do corpo. Então, para tratar uma doença viral, é preciso bloquear uma das proteínas virais que permitem a entrada na célula ou bloquear a leitura do material genético do vírus", explica. É por isso que medicamentos específicos para viroses são muito raros. Por exemplo, somente em 2016 a medicina chegou a um remédio para tratar a hepatite C. As doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue, gripe e chikungunya, não têm tratamento específico até hoje. "A gente não tem tratamento para a maioria dos vírus. Encontrar um medicamento para as viroses é difícil, é complexo, e costuma ser mais difícil do que as doenças bacterianas em geral", afirma Salvador. 3. O que está sendo feito na busca por um tratamento para a Covid-19? Um trabalhador usa máscara de proteção ao comprar remédios em uma farmácia, em Dubai, Emirados Árabes Unidos Ahmed Jadallah/Reuters Autoridades de saúde de todo o mundo têm conduzido testes com medicamentos já existentes — procedimento conhecido como segundo uso na literatura médica. Ou seja, há pesquisas em andamento para verificar se remédios disponíveis no mercado são capazes de combater a Covid-19 de maneira eficaz e segura. "Trata-se de verificar se algum medicamento já existente pode ser usado para a nova doença", resume o professor François Noël, do programa de pós-graduação em farmacologia e química medicinal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). VEJA TAMBÉM: Saiba mais sobre as pesquisas em curso com os medicamentos Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) escalou uma força-tarefa que envolve 74 países para testes e estudos clínicos com medicamentos já existentes. A operação convoca pacientes voluntários nesses locais para analisar resultados no tratamento da Covid-19 com os seguintes medicamentos e combinações: Cloroquina ou hidroxicloroquina Lopinavir com Ritonavir Lopinavir com Ritonavir mais Interferon beta-1a Remdesivir O tratamento com cloroquina e hidroxicloroquina combinado com o antibiótico azitromicina foram citados pelos presidentes Jair Bolsonaro, no Brasil, e Donald Trump, nos Estados Unidos, como esperança para o tratamento da Covid-19. Entretanto, os estudos clínicos ainda estão em andamento. Por isso, os médicos pedem que a população NÃO se automedique com esses ou outros remédios. Além disso, em resposta ao G1, a OMS afirmou que "nenhum produto farmacêutico se mostrou seguro e eficaz para tratar a Covid-19". Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) permitiu o início de testes clínicos com plasma de pacientes em São Paulo. Reprodução/TV Globo Outra possibilidade em estudo é o tratamento com sangue de pacientes curados. Nesta semana, três hospitais de São Paulo receberam autorização para iniciar testes clínicos com o procedimento baseado no plasma de quem já se infectou com o novo coronavírus. Os médicos esperam que, ao receber o plasma com os anticorpos, o doente tenha uma recuperação mais rápida. O risco de mortalidade diminuiria e o tempo de internação seria reduzido, disponibilizando leitos para outros infectados. 4. É possível se chegar a um medicamento completamente novo? Testes de novo coronavírus (Covid-19) em laboratório de Moscou, na Rússia, em foto desta segunda-feira (6) Evgenia Novozhenina/Reuters Sim, é possível. Porém, a espera para que um remédio completamente novo chegue ao mercado pode demorar mais de 10 anos, explica o professor François Noël, da UFRJ. E, segundo o especialista, o custo das pesquisas pode chegar a US$ 1 bilhão. "É um processo custoso, complicado e que leva muito tempo", alerta Noël. De acordo com o professor Noël, a demora e o alto custo existem porque é preciso cumprir as seguintes etapas até que um medicamento eficaz chegue às farmácias: Estudo sobre as características do agente causador da doença. Os cientistas buscam hipóteses sobre quais estratégias evitariam a entrada ou replicação do vírus, por exemplo, com base em enzimas. Síntese de novas moléculas que poderiam ser capazes de combater o vírus ou a bactéria, no caso das doenças bacterianas. Testes laboratoriais para eliminar as moléculas com resultado pior, até que se chegue a um grupo mais restrito de substâncias que poderiam, segundo as pesquisas, ter mais chance contra a infecção. Ensaios laboratoriais e estudos toxicológicos com as moléculas que apresentarem os melhores resultados nas etapas anteriores. É necessário fazer testes em animais, de acordo com normas de agências reguladoras. Após essas quatro etapas, as autoridades regulatórias precisam autorizar os testes em seres humanos com o novo fármaco. São órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil, e a Administração de Alimentos e Drogas (FDA, na sigla em inglês), nos Estados Unidos. Fila para entrada em farmácia em Tóquio, no Japão, em 27 de março Kyodo via Reuters Se houver autorização, as empresas podem enfim seguir para o teste em seres humanos, que ocorre em três fases. Veja quais são: Estudo clínico de fase 1. Voluntários sadios tomam pela primeira vez o novo medicamento para verificar a toxidade do fármaco. Costuma envolver de 50 a 80 pessoas. Estudo clínico de fase 2 — prova de eficácia. Caso as autoridades reconheçam que há segurança, o teste é feito em um grupo de 100 a 300 pacientes com a doença. Uma parte toma o medicamento testado, enquanto a outra recebe um placebo. A ideia é identificar que o efeito realmente advém do fármaco, e não de uma resposta do próprio organismo à infecção. Estudo clínico de fase 3 — estudos multicêntricos. O mesmo teste da etapa anterior é feito, mas com um grupo muito maior de pacientes: de 1 mil a 3 mil pessoas infectadas. Geralmente ocorre em vários países ao mesmo tempo, seguindo o mesmo protocolo. Nesse processo, ainda há a etapa em que as empresas farmacêuticas inscrevem a patente das moléculas a serem isoladas. Isso significa que, por um tempo — dependendo do país —, somente aquela companhia comercializará o medicamento. Somente depois há a possibilidade da fabricação de medicamentos genéricos. 5. Por que o medicamento contra H1N1 apareceu mais rápido? No mesmo ano em que a OMS declarou pandemia de H1N1, conhecida como gripe suína, o oseltamivir — conhecido pelo nome comercial Tamiflu — começou a ser prescrito para pacientes com a doença. Isso deu a impressão de que se tratava de um novo medicamento para uma nova enfermidade. Mas, na verdade, o oseltamivir foi aprovado pela FDA em 1999, dez anos antes da pandemia de H1N1. Além disso, o vírus causador da doença era uma variante do influenza, vírus causador da gripe conhecido há séculos pela literatura médica. "Os sintomas da gripe foram descritos pela primeira vez há mais de 2 mil anos por Hipócrates. E o termo 'gripe' é utilizado desde o século XVII. Então é uma doença que acompanha a humanidade há muito tempo", explica o infectologista Gerson Salvador. Ainda assim, o oseltamivir não combate a replicação do vírus, e sim atenua os sintomas — mais um exemplo de como é difícil se chegar a um tratamento específico contra uma virose. 6. Por enquanto, como tratar a Covid-19? Teste para Covid-19 é visto em Las Vegas nesta segunda-feira (6). Ethan Miller / Getty Images via AFP Como não há um medicamento específico para tratar a Covid-19, tudo depende do quadro. A maioria das pessoas infectadas pelo novo coronavírus desenvolverá quadros leves — principalmente crianças e jovens sem problemas cardíacos e pulmonares e sem imunodepressões. O infectologista da USP Gerson Salvador reforça: o recomendado para esses casos é tratar os sintomas em casa. Manter-se hidratado e com uma boa alimentação ajudam o corpo a combater a doença. "Não se deve procurar atendimento de emergência por causa de febre, tosse e sintomas respiratórios mais leves. O melhor é buscar uma unidade básica de saúde, ou, se possível, a telemedicina", afirma Salvador. Em casos mais graves, principalmente com sinais de falta de ar, o paciente deve procurar atendimento em hospital. Nesses casos, os médicos devem tratar o doente com suporte ventilatório e cuidar das outras comorbidades que podem interferir no processo de cura da Covid-19. "É quando o hospital oferece oxigênio para pacientes com oxigenação baixa e cuida das doenças crônicas que podem estar descompensadas por causa da infecção", explica o infectologista. Saiba mais no VÍDEO abaixo as formas de tratamento da Covid-19 Coronavírus: há remédios e vacinas? Qual o tratamento? Initial plugin text

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