Excesso de coagulação agrava casos de coronavírus e pode levar à morte, avalia médica brasileira


Mecanismo de defesa do corpo contra o coronavírus libera substância que pode diminuir a oxigenação do sangue e facilitar a criação de coágulos. Integrante da equipe médica conversa com paciente infectado pelo novo coronavírus em hospital em Bergamo, na Itália, na sexta-feira (3) Piero Cruciatti / AFP Os problemas dos pacientes graves de Covid-19 não são ligados somente à inflamação dos pulmões, mas, também, à coagulação excessiva que é causada pela resposta que o corpo dá à infecção pelo coronavírus, avalia a pneumologista Elnara Negri, do Sírio Libanês. Em entrevista ao G1, ela ressalta que a análise dessa característica, na prática, pode levar à mudança na forma do tratamento: quando os pacientes têm um quadro agudo, o médico precisaria dar um anticoagulante. Médicos da China cuidam de paciente com Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus Governo da China Coronavírus: como o Sars-Cov-2 ataca os pulmões e como o corpo humano derrota o vírus Coronavírus: tire suas dúvidas sobre a pesquisa de medicamentos no combate à Covid-19 Uma equipe de pesquisadores chineses chegou a conclusões parecidas e usou o mesmo método de tratamento. Em uma pesquisa com 99 pacientes, se concluiu que essa terapia foi associada a um prognóstico melhor dos pacientes. Trombose alerta para o risco Negri, que é professora livre docente da USP, conta que estava em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) com uma paciente de Covid-19 quando começou a suspeitar da possibilidade de que a doença tivesse alguma relação com a coagulação. A oxigenação da mulher infectada era "horrorosa", descreve a médica, mas o pulmão se enchia de ar, o que não é comum em casos de inflamação desse órgão. "Na minha frente, o dedão do pé dela ficou roxo. Portanto, houve trombose no dedão", relata Negri. Trombose é uma espécie de problema de circulação que acontece nas veias e artérias. Ela é causada pela formação de uma espécie de bloco de sangue com consistência mais sólida, ou seja, menos fluida -- chama-se coágulo. Isso atrapalha a circulação. Foi por isso que o dedão da paciente de Negri ficou roxo. Defesa natural Quando o corpo reage ao Sars-Cov-2, o sistema imunológico acaba criando coágulos que se espalham dentro das veias e artérias dos pacientes, inclusive no pulmão. "Para o pulmão trocar ar, ele se enche e faz com que o oxigênio atravesse pelos alvéolos e, ao lado de cada um deles, há vasos capilares (ou seja, vasos muito finos por onde circula sangue) que absorvem esse oxigênio. Mas, com os micro-coágulos, esses vasos ficam obstruídos. Por isso a oxigenação fica horrorosa" – pneumologista Elnara Negri, do Sírio Libanês Negri, então, procurou outros médicos do Hospital das Clínicas que fizeram necropsias em pessoas que haviam morrido de Covid-19. "Liguei e falei que a doença não mata por causar desconforto respiratório agudo. Pedi para que eles procurassem trombos nas autópsias. Eles acharam trombos em todos os lugares." O nome técnico dessa reação é coagulação intravascular disseminada (a sigla é CIVD). Uma das causas de mortes é que os vasos ficam comprometidos. O que causa os coágulos O coronavírus provoca algumas reações no corpo da pessoa infectada – o "acionamento" do sistema imunológico é uma delas. Mas em alguns casos, explica a médica, essa resposta corporal é muito forte. O mecanismo de defesa prevê a produção de uma espécie de proteína chamada interleucinas. A função delas é semelhante a uma "convocação" de glóbulos brancos para combater o coronavírus. O problema é que alguns pacientes produzem interleucinas demais –cientistas usam a expressão 'tempestade de interleucinas". É esse excesso que causa coágulos no sangue. O tratamento: anticoagulante Há remédios que impedem a coagulação intravascular disseminada. São os anticoagulantes. Mas o momento de dá-los ao paciente e a dose são delicados: esse tipo de medicamento impede a cicatrização e, se forem usados de forma errada, o resultado pode ser trágico, o doente pode morrer de tanto sangrar internamente. No Sírio, alguns pacientes já tomaram um coagulante chamado heparina. Ele só é usado em hospitais, mas, segundo a doutora Negri, é barato, e a maioria dos hospitais têm. A equipe do Sírio Libanês está no processo de descrever como deve ser o tratamento com esse anticoagulante –em linguagem técnica, como será o protocolo. É nesse momento em que Negri e seus colegas estão: eles tentam agilizar esse processo para que mais médicos saibam em que casos, de qual forma e em qual momento tentar aplicar essas observações em um tratamento. Hábitos podem diminuir a eficácia do sistema imunológico na luta contra o coronavírus Initial plugin text

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