O envelhecimento do sistema imunológico e sua relação com a Covid-19


Cientista explica o que está por trás da imunossenescência, que se agrava a partir dos 65 anos O nome é complicado, imunossenescência, e traduz mais um aspecto do envelhecimento: o sistema imune vai se alterando com o passar dos anos e se tornando menos eficaz no combate aos “invasores”, como vírus e bactérias. Para conhecer o assunto, conversei com o doutor Moisés Evandro Bauer, professor titular de imunologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUC-RS, onde também coordena o Laboratório de Imunobiologia. Ele tem doutorado em neuroimunologia pela University of Bristol e pós-doutoramento em imunologia celular pela Université Paris V, além de ser o organizador do livro “Imunossenescência: envelhecimento do sistema imune”, lançado em 2019. Moisés Evandro Bauer, professor titular de imunologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUC-RS Acervo pessoal O envelhecimento envolve mudanças celulares e moleculares, afetando também nosso sistema imunológico. Quais são as características desse quadro, conhecido como imunossenescência? A imunossenescência é o envelhecimento do sistema imune e esse processo é acelerado depois da puberdade. É quando o timo, uma glândula que fica no centro do peito, entre os pulmões e na frente do coração, começa a retroceder, a se atrofiar. É no timo que, até a adolescência, se dá a produção máxima de linfócitos T, as células que comandam nossas defesas quando o organismo é atacado por algum agente invasor. Se a produção de linfócitos T cai, como o organismo consegue se proteger na vida adulta? Apesar de o timo ir deixando de produzir linfócitos novos, nosso organismo mantém as chamadas células T de memória. A célula T virgem é a que acabou de ser produzida e ainda não teve contato com uma infecção ou vacina, ou seja, não encontrou um antígeno. Já as células T de memória são as que tiveram essa experiência e logo dão uma resposta imune diante de um vírus ou bactéria. Algumas permanecem a vida toda conosco. São essas células “sobreviventes” as responsáveis pela nossa imunidade? Sim, são as células T de memória que vão acionar o sistema imune diante de uma nova agressão. Num processo inflamatório, criam-se ínguas, que são intumescimentos dos gânglios, com grande produção de linfócitos para combater o invasor, e 95% morrem depois do combate. No entanto, a partir dos 65 anos, e no período da década seguinte, essas células se tornam menos eficazes para barrar vírus e bactérias. Dizemos que elas perdem o repertório, isto é, a capacidade de reconhecimento. Outra questão importante é o aumento progressivo da inflamação sistêmica no envelhecimento. Essa é uma das razões que explica por que, ao envelhecer, somos mais suscetíveis a doenças cardiovasculares e inflamatórias, como artrite e artrose, diabetes, câncer. O mesmo se aplica ao novo coronavírus? Sim, especialmente no caso de o idoso apresentar uma ou mais doenças crônicas, as multimorbidades. A Covid-19 provoca um quadro inflamatório, que pode ser descrito como uma explosão viral, que toma o pulmão. Depois dos 65 anos, a resposta imune será fraca e estará aquém das necessidades para fazer frente ao vírus. O que podemos fazer para diminuir o impacto da imunossuficiência? Ter um estilo de vida saudável faz toda a diferença para aumentar a resistência do organismo, o que inclui exercícios aeróbicos regulares, manter uma dieta equilibrada, não fumar e beber com moderação. São hábitos que têm que ser adotados desde cedo. Sabemos que o estresse tem um forte impacto negativo na resposta imune, desencadeando um processo inflamatório, por isso técnicas de relaxamento e meditação deveriam ser incentivadas. Aqui na universidade, realizamos uma pesquisa que mostrou os efeitos benéficos da acupuntura para o sistema imunológico. Cientistas também estão trabalhando para desenvolver senolíticos, drogas que agem diretamente no envelhecimento celular, removendo as células senescentes.

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