Os riscos da quarentena para as mulheres
A médica Andrea Prates chama atenção para as que cuidam de diversas gerações: de pais idosos a netos A geriatra e gerontóloga Andrea Prates, com mais de 30 anos de atuação como profissional de saúde e consultora, reconhece a pandemia do coronavírus como uma crise humanitária, mas não tem dúvidas sobre a carga extra que a Covid-19 representa para as mulheres, já que a maioria trabalha fora: “elas tocam mais de 50% das pequenas empresas e representam 70% da mão de obra nos serviços sociais e de saúde, na linha de frente da pandemia. Estão assumindo um volume ainda maior de responsabilidades, que se somam às suas atividades anteriores. A situação demanda um olhar mais generoso sobre as questões de gênero por parte das empresas, já que a supervisão da casa e do estudo das crianças, com raras exceções, continua sendo feminina. Em momentos de crise, as mulheres tentam criar um ambiente de harmonia, uma atmosfera de tranquilidade. O que vejo é que estão exaustas, sem o reconhecimento de seu esforço e até mais expostas à violência doméstica”. A geriatra e gerontóloga Andrea Prates Divulgação A médica afirma que as mulheres na faixa da meia-idade ou idosas jovens – um amplo espectro que vai dos 40 aos 69 anos – merecem atenção especial, porque muitas cuidam de diversas gerações: pais idosos, cônjuges, filhos e netos. “Não podemos esquecer que 40% dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres. Sobra muito pouco tempo para o autocuidado e, com frequência, isso tem impacto negativo quando há doenças crônicas. Com o isolamento, elas estão sem a rede de apoio que lhes dava suporte, como a escola dos filhos, a ajuda das avós, de uma assistente doméstica. A ansiedade se amplifica”, explica. No que diz respeito ao autocuidado, uma de suas maiores preocupações é o foco em zelar pelo bem-estar físico e mental: “somos seres integrais e únicos, a saúde mental é elemento essencial no conceito amplo de saúde”. A doutora Andrea Prates vem observando uma crescente dificuldade de manter uma dieta saudável e faz um alerta: “comer traz uma sensação de aconchego e parece compensar o estresse e a insegurança, por isso é tão importante a alimentação consciente, que observa os gatilhos que geram esse impulso”. Sua sugestão é privilegiar o estoque de alimentos saudáveis e não abandonar a prática de exercícios físicos: “o objetivo é estabelecer uma rotina para tonificar os músculos, o que pode ser feito em casa. Dormir bem também é fundamental. O sono, inclusive, diminui o desejo por carboidratos”. A geriatra acrescenta que exercícios de respiração, nos quais se inspira e expira o ar lentamente, são bons aliados para combater a ansiedade. E conclui: “o ideal é reservar alguns momentos por dia para um ‘respiro’, num lugar tranquilo que funcione como refúgio”.
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