Pesquisadores russos viram cobaias na corrida por uma vacina contra o novo coronavírus


Chefe de instituto russo de pesquisa Gamaleïa, Alexandre Guintsbourg, afirmou ter injetado a vacina que está testando em si próprio. SARS-CoV-2, o novo coronavírus, responsável por causar a Covid-19. Scientific Animations/Wikimedia Commons/Divulgação Pesquisadores de um instituto de Moscou testam um protótipo de vacina contra o novo coronavírus neles mesmos. Um método pouco habitual que demonstra a ambição da Rússia para estar entre os primeiros colocados na corrida mundial por um remédio contra a Covid-19. O chefe do instituto russo de pesquisa Gamaleïa, Alexandre Guintsbourg, afirmou ter injetado a vacina que está testando nele mesmo. O pesquisador recorreu a este método, que não segue os protocolos habituais, para acelerar o processo científico e concluir os testes clínicos até o final de setembro. O programa do Gamaleïa é apenas um dos inúmeros projetos apresentados ao presidente russo Vladimir Putin. Outras iniciativas são dirigidas por consórcios públicos-privados e pelo ministério da Defesa. Vários responsáveis garantiram a Putin que uma vacina poderia ser criada até setembro, passando na frente de dezenas de projetos desenvolvidos na China, Estados Unidos e Europa. Os críticos ao programa se preocupam, no entanto, temendo que a Rússia tenha confundido rapidez com precipitação. A Associação Internacional de Organizações de Pesquisa Clínica denunciou as experiências do instituto Gamaleïa como uma “violação flagrante dos fundamentos da pesquisa clínica, da lei russa e das normas internacionais” para responder a pressões das autoridades russas. Corrida preocupante “Eu estou preocupado com a promessa de fazer uma vacina até setembro”, observa Vitali Zverev, um dos responsáveis por vacinas e séruns do Instituto Público Metchnikov. “Me faz pensar em uma corrida e eu não gosto disso”, diz. Os aspectos econômicos são importantes para a Rússia e para o resto do mundo. As economias ficaram totalmente paradas por meses de confinamento para frear a pandemia. Para vários responsáveis, somente uma vacina permitirá um retorno completo à normalidade. Mas a descoberta de uma vacina também é uma questão de prestígio. Na época da União Soviética, o setor de biotecnologia era considerado um dos melhores do mundo e chegou a produzir 1,5 bilhão de doses de vacinas contra a varíola, que ajudaram a erradicar a doença do mundo.  Mas a pesquisa médica russa quebrou, como outras indústrias do país, nos anos 1990. O Centro Nacional de Pesquisa em Virologia e Biotecnologia Vektor, um dos mais importantes desta época, espera ganhar a corrida pela vacina e se comprometeu em vários projetos, inclusive em associação com empresas privadas. O problema, segundo Alexandre Loukachev, diretor do Instituto Martsinovski de parasitologia médica, é que a pesquisa russa tem dificuldades de sair do laboratório para o mundo exterior, ainda que a pesquisa fundamental e os cientistas continuem sendo de muita qualidade.     “Eu não conheço nenhuma (nova) vacina produzida em massa pela Rússia que tenha chegado a mais de um milhão de doses”, explica. “Somente nesses níveis podemos avaliar (a eficácia) de uma vacina” a longo prazo. Desconfiança Ele cita o exemplo de estudos feitos com protótipos promissores de vacinas contra o SRAS – doença que atingiu a Ásia em 2002, similar ao novo coronavírus –, mas  que causavam imunopatologias. Isso significa que a resposta imunitária dos indivíduos vacinados agravou os sintomas da doença, algumas vezes anos depois dos testes. Nas atuais circunstâncias, “o desenvolvimento de uma vacina é uma questão de prestígio nacional” para a Rússia, diz Loukachev. Além disso, as autoridades russas tradicionalmente não são abertas a iniciativas estrangeiras para estudar “material biológico” russo. Os esforços do instituto Metchnikov de cooperar com a European Virus Archive, uma organização destinada a facilitar intercâmbios científicos, foram obstruídos porque a Rússia baniu o compartilhamento de suas cepas virais. “Nossos colegas nos enviam vírus, mas nós não podemos dar os nossos”, diz Vitali Zverev. Stevens Rehen fala sobre as perspectivas de uma vacina eficaz contra o coronavírus Initial plugin text

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