Idosos e medicamentos: o difícil equilíbrio entre riscos e benefícios


Sociedade Americana de Geriatra apresenta inúmeros trabalhos que discutem a questão Na semana passada, a Sociedade Americana de Geriatria (American Gereiatrics Society) realizou um evento on-line que originalmente estava marcado para seu encontro científico anual, abalroado pela pandemia. Na conferência virtual, foram apresentados três trabalhos relacionados a medicamentos. Idosos recebem um volume de prescrições maior do que qualquer outro grupo etário e, se remédios desempenham um papel fundamental para manter a saúde e o bem-estar dos indivíduos, também podem provocar problemas. A grande questão é: qual é o patamar seguro e benéfico? Idosos recebem um volume de prescrições de remédios maior do que qualquer outro grupo etário Steve Buissinne por Pixabay Este blog já tratou do tema em mais de uma ocasião, inclusive alertando sobre a chamada Lista de Beers, que relaciona medicamentos inapropriados ou pouco seguros. Há uma extensa relação de drogas cuja utilização está associada ao risco de quedas: benzodiazepínicos, receitados para quem tem problemas de ansiedade e insônia; antipsicóticos, para dificuldades de comportamento que ocorrem no Alzheimer e outras demências; antidepressivos; opioides; anti-hipertensivos; e aqueles para baixar as taxas de açúcar no sangue, que podem levar a um quadro de hipoglicemia. Zachary Marcum, professor de farmácia da University of Washington, em Seattle, apresentou um estudo promissor fruto do trabalho de pesquisadores dos Estados Unidos e da Holanda, que testou o motivo de alguns medicamentos para controlar a hipertensão levarem a um risco menor para demência. Esse efeito estaria associado à ação do hormônio angiotensina-II junto a receptores do organismo. Foram analisados os diagnósticos de demência de mais de 1.900 pessoas, entre 70 e 78 anos. A demência ocorreu em 5.6% dos indivíduos que utilizavam anti-hipertensivos que aumentaram a atividade do hormônio angiotensina-II, enquanto 8.2% dos diagnosticados com a doença se valiam de medicação que diminuía a atividade do mesmo hormônio. Com os ajustes de fatores de risco e histórico de saúde, os participantes que usavam medicamentos que aumentavam a atividade da angiotensina-II tinham uma taxa 44% menor de demência, ou seja, eles funcionariam como uma proteção para o cérebro. “Este é o primeiro passo para uma ´hipótese da angiotensina’, que pode se tornar uma estratégia de tratamento importante para idosos”, sintetizou. A doutora em farmácia Kristin Smith trouxe uma iniciativa de desprescrição de medicamentos a veteranos. O programa-piloto chama-se FAME (Falls Assessment of Medications in the Elderly) e se destina a indivíduos acima dos 65 anos. Através de consultas virtuais, o time de especialistas faz uma sugestão de diminuição no número de remédios e a recomendação é enviada para o médico responsável. “Em 93% dos casos, os clínicos aceitaram a desprescrição de pelo menos uma droga; no caso de psiquiatras, a concordância foi um pouco menor: 70%. Dos pacientes que participaram, 70% concordaram em retirar um medicamento e o importante é que não tivemos nenhum evento adverso”, explicou a pesquisadora. Diversos estudos foram publicados ao longo do mês de junho sobre o tema. Um desses questionava o uso de estatinas, utilizadas para controlar os níveis do colesterol e evitar doenças cardiovasculares, em pacientes no final da vida que se encontravam em instituições de longa permanência. Em pesquisas recentes, que incluíram gente acima dos 75 anos, a conclusão é de que a droga não ajudava na prevenção da doença. Na verdade, a miopatia, cujos sintomas são dores e fraqueza muscular, é um dos efeitos colaterais mais relatados das estatinas – problema que pode afetar de modo dramático idosos frágeis, que já estão num processo de declínio físico. Outro se debruçava sobre o tratamento contra o diabetes em idosos no fim da vida. Uma em cada quatro pessoas acima dos 65 anos tem a enfermidade, que com frequência leva a doenças cardiovasculares. A orientação para retardar sua progressão e complicações é manter um rígido controle dos níveis de açúcar no sangue. Os níveis normais de hemoglobina glicada (ou hemoglobina glicosilada, ou simplesmente HbA1c) não devem ultrapassar 5.7%. Em diabéticos mais jovens, o patamar não poderia ultrapassar de 6.5% a 7%. Entretanto, para idosos com baixa expectativa de vida ou que tenham demência, manter o nível de açúcar baixo embute o risco de causar mais danos do que benefícios, por causa de episódios de hipoglicemia que podem levar à perda de consciência e quedas. Especialistas têm revisto as orientações e levantado a marca para algo entre 8% e 9% para esse grupo. Resumo da ópera: nada é tão simples como parece.

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