Espermatozoides nadam com 'giro de pião', e não com movimentos paralelos, aponta cientista brasileiro
Descoberta foi feita a partir de um microscópio 3D e revela o que estava escondido há mais de 300 anos: espermatozóides 'perfuram' o fluido, como parafusos. Cientistas descobrem que espermatozoides na verdade ‘giram’, não ‘nadam’ A forma com que a ciência pensou, por mais de três séculos, o nado dos espermatozoides estava errada. É o que diz um estudo publicado nesta sexta-feira (31) pela revista "Science Advances", a partir de imagens coletadas por um microscópio 3D que revelou um deslocamento em espiral. O primeiro cientista a descrever o movimento dos espermatozoides foi o holandês Antonie van Leeuwenhoek. Com seu microscópio, ele avistou em 1678 uma "cauda, que, quando nadava, se mexia como uma serpente, como enguias na água". Cientistas descobrem que espermatozoides na verdade ‘giram’, não ‘nadam’ Divulgação/polymaths-lab.com Cientistas resolvem mistério da origem de Stonehenge Micróbios de mais de 100 milhões de anos enterrados no fundo do mar são reativados em pesquisa Canabidiol pode ajudar pessoas a abandonarem o consumo de maconha, diz pesquisa inglesa A constatação de Leeuwenhoek foi pouco questionada, porque justamente era isso que se podia ver com um microscópio comum. Mas em 2020, com a tecnologia de microscopia tridimensional, pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e da Universidade Autônoma do México viram algo mais: um movimento espiralado e giratório em todas as direções. Estudo revela que espermatozóides nadam em espiral Divulgação/polymaths-lab.com "O flagelo bate de uma maneira assimétrica somente para um lado, mas ele vai rotacionando gradualmente e faz com que o espermatozoide anule sua assimetria", explicou ao G1 o brasileiro Helder Gadêlha, professor da Universidade de Bristol e primeiro autor do estudo. "Com isso, se consegue criar uma simetria através da assimetria." Para explicar, o matemático deu como exemplo o movimento de um pião em que ele gira ao redor de si mesmo e também ao redor de seu eixo. Segundo ele, é como se o gameta estivesse "perfurando o fluido". "É um movimento de precessão, um termo emprestado da física", comentou o pesquisador. "A terra tem um movimento de precessão, e é isso que dá diferença do equinócio, solstício. Com o espermatozoide é quase como se você tivesse dois movimentos rotatórios perfurando o fluido de uma maneira muito bonita, muito elegante porque é aparentemente simétrico." 55 mil fotos Para enxergar como o gameta menor que a espessura da metade de um fio de cabelo se move, os pesquisadores usaram uma potente câmera capaz de tirar 55 mil fotos a cada um segundo. Com isso, eles conseguiram escanear os espermatozoides e identificar este movimento giratório. "Ele é muito pequeno, tem 5 micrômetros", disse Gadêlha. "Além disso, ele é muito rápido, ele nada em uma frequência entre 20 e 30 batimentos por segundo e quando for escanear, tem que ser em uma velocidade tão rápida que parece que o espermatozoide não está se movendo, ou como se estivesse em slow motion." Estudo revela que espermatozóides nadam em espiral Divulgação/polymaths-lab.com Pode até parecer simples, mas os pesquisadores ficaram quatro anos calibrando os equipamentos e registrando as imagens coletadas para poder provar que o movimento identificado não era um erro na captação. "Uma vez que você consegue fazer a observação em três dimensões, a pergunta principal se torna como é que a cauda bate realmente", contou o brasileiro. "Para responder a essa pergunta, tem que ir para o referencial do espermatozoide, é quase como se você pegasse uma 'Go Pro' e colasse na cabeça do gameta." "Essa pesquisa é um casamento de várias áreas do conhecimento", explicou o matemático. "Somos biólogos, engenheiros, matemáticos trabalhando juntos. Só a observação no microscópio não é suficiente, precisamos combinar com a modelagem matemática, mas ela sozinha não vai dar as respostas." Ciência de base A descoberta dos pesquisadores abre caminho para entender melhor os mecanismos da origem de todos nós: "Eu não estaria aqui se não tivesse um espermatozoide chegado a um óvulo", reforçou o cientista e professor de matemática aplicada. A próxima pergunta que eles fazem é justamente qual a relevância deste movimento para a infertilidade. Gadêlha explicou que muitos testes de fertilidade humana levam em conta a forma com que os gametas masculinos conseguem nadar. "A única coisa que eu posso dizer, é que isso é menos de 10% do que a gente ainda estuda", disse o pesquisador. "Vendo no microscópio, o futuro parece muito mágico." Estudo revela que espermatozóides nadam em espiral Divulgação/polymaths-lab.com
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