Bill Murray, o ator-fetiche de Sophia Coppola para falar do envelhecimento
Em seu novo filme, “On the rocks”, diretora reedita parceria de 2003 A estreia da parceria entre Bill Murray e Sofia Coppola foi em 2003, no filme “Encontros e desencontros” (“Lost in translation”), que contava também com uma Scarlett Johansson mal saída da adolescência. Bill era Bob Harris, ator meio decadente em crise de meia-idade, que ia a Tóquio para sessões de fotos publicitárias. Sua melancolia encontrava eco na angústia de Charlotte, personagem de Scarlett, que acompanhava o marido fotógrafo e não sabia o que fazer da vida. Era a primeira vez que a cineasta abordava a questão do envelhecimento, assim como a da riqueza da convivência entre pessoas de gerações diferentes. Ela costuma contar que, quando escreveu a história, que lhe rendeu um Oscar de melhor roteiro original, só conseguia imaginar Bill Murray no papel. Bill Murray e Rashida Jones no filme “On the rocks” Divulgação Agora, aproximando-se dos 50 anos, a diretora reedita a parceria em “On the rocks”, recém-lançado no streaming. Bill vive Felix, um sedutor incorrigível e pai de Laura, interpretada por Rashida Jones, que a ajuda a descobrir se seu marido tem um caso. Por conta própria, investiga e manda seguir o genro, alimentando a insegurança da filha e a colocando em situações constrangedoras. É curioso que tanto Sofia quanto Rashida tenham em comum o fato de os pais serem monstros sagrados: respectivamente, o cineasta Francis Ford Coppola e o produtor musical Quincy Jones, cujas presenças tiveram enorme peso para a prole. Há cenas que poderiam fazer parte de uma sessão de terapia de família, além de divertidos diálogos sobre monogamia e como manter acesa a chama do desejo. Bill, que completou 70 anos em setembro, parece ter se tornado um ator fetiche para a diretora discutir o envelhecimento de uma geração de bons vivants que está desaparecendo. Seu personagem é tão charmoso e narcisista quanto solitário. A propósito, as histórias sobre suas excentricidades são conhecidas em Hollywood. Como, por exemplo, quando descobriu que o motorista do táxi que o levava era um saxofonista frustrado, porque não tinha tempo para treinar. Bill foi para o volante enquanto o taxista praticava no banco de trás. No entanto, discussões no set de filmagens lhe renderam a fama de difícil. Em entrevista ao jornal “The Guardian”, ele se defendeu: “minha reputação de ator difícil vem de pessoas com quem eu não gostava de trabalhar ou de gente que não sabia trabalhar ou não entende no que consiste trabalhar. Jim [Jarmush], Wes [Anderson] e Sofia [Coppola] sabem o que é trabalhar e sabem como tratar as pessoas”. Um baby boomer assertivo, com certeza.
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